domingo, 2 de maio de 2010

Corinthians: O RETORNO ZERO

Aquele choro comovido da minha gente, em dezembro passado, está vivo na minha memória. O Corinthians, gravemente doente, estava na UTI. O diagnóstico era sabido: micróbios e vermes potentes lhe sugaram quase todo o sangue além de lhe roubar o dinheiro deixado pela torcida.

Adversários entusiasmados e “sem noção” fizeram festa, soltaram rojões, inventaram piadas. Alguns mais maldosos rogaram pragas e chegaram a crer na morte do gigante.

O normal seria o abatimento coletivo dos 18 milhões de torcedores. O normal, para uma torcida qualquer. Mas essa gente vestiu a camisa que tanto adora e saiu às ruas de cabeça erguida, como que afrontando os adversários. Vários deles hastearam bandeiras em janelas, carros, praças, passarelas, pontes.

Em passeata foram ao "Hospital Parque São Jorge". O doente, pálido e alquebrado veio à janela. A multidão em coro gritava uníssono: EU NUNCA VOU TE ABANDONAR, PORQUE EU TE AMO. As televisões fizeram programas com psicólogos e filósofos numa tentativa de explicar aquilo. Em vão. Ainda vasculharam livros de política, religião e esportes a procura de algo semelhante. E nada!

Dias depois, aquela gente marca um novo encontro, desta vez no Pacaembu. As TVs esqueceram os outros clubes, as notícias importantes, todo o resto, e colocaram dezenas de câmeras para bisbilhotar aquelas pessoas fanáticas.

Numa fração de segundos, eles começaram a pular abraçados e freneticamente, veio uma gritaria: AQUI TEM UM BANDO DE LOUCOS, LOUCOS POR TI CORINTHIANS.

O doente já melhorava porque sabia o que acontecia nas ruas. Já respirando sem aparelhos, volta à janela, tentando dar alguns passos. E a turma de verdadeiros apaixonados estava lá: e a gritaria foi de arrepiar. NÃO PÁRA, NÃO PÁRA, NÃO PÁRA. Com essa manifestação de fidelidade e fé, o doente não parou de andar. Foi sentir o calor do norte, o frio do sul, visitou praias do nordeste, passeou pelo planalto central e percorreu estradas paulistas. Em cada canto do país percebeu que ali havia um bando de loucos. Aí os psicólogos e filósofos desistiram de vez. Aquele movimento era ímpar, próprio, inigualável, jamais visto na história do futebol.

Passados pouco mais de 10 meses, os médicos que previam internação por pelo menos 1 ano, deram liberdade ao gigante, mas ainda não têm explicação para aquela melhora. Também – pudera – nenhum era corintiano.

EU VOLTEI, VOLTEI PARA FICAR, PORQUE AQUI É O MEU LUGAR foi a cantoria do retorno. Mas como escrevi no título, retorno zero, porque, de verdade, o Corinthians não retornou, só tirou uma férias e nesse tempo, mudou o alfabeto para B…A…

O choro, desta vez, foi mais comovente. Os adversários se assustaram. Alguns malucos ( não loucos, porque loucos são só os fiéis alvinegros) que esperavam o pior para aquele doente, agora se entreolham boquiabertos. Estão pasmos. E aprenderam uma lição duradoura. Essa gente lá do Corinthians é diferente. Se acontecer uma doença com qualquer um eles, sabem que a cura terá que ser por outro tratamento, porque o bando de loucos não passa receita.

Eu, particularmente, vivi todos esses momentos e o meu Corinthians, sabe que não tem apenas torcedores, tem amigos do peito.

Fiéis, abnegados, justos e exemplares. E sabem chorar. E como se não bastasse, comovem. E como comove.

( Osmar de Oliveira )

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